ENSINAR A GRAMÁTICA (MORFOLOGIA), A PARTIR DE TEXTOS POÉTICOS



SOUSA, Glécia Silva
APRESENTAÇÃO
O presente artigo foi elaborado com a proposta de trabalhar a gramática, em especial a Morfologia, de forma diferenciada do convencional, através de textos do gênero poético, para tentar sanar algumas dificuldades frequentes quanto ao aprendizado em sala de aula.
 A maior dificuldade para um educador em sala de aula é quando percebemos a dificuldade dos alunos em aprender à gramática e ouvi-los falarem que odeiam a disciplina de Português, porque acham difícil, por existir tantas regras. Esse é um dilema para nós que passamos anos na universidade nos aprofundando mais ainda sobre a língua que nós cidadãos brasileiros falamos, mas que é brutalmente massacrada ortograficamente e oralmente em nosso cotidiano, por a maioria das pessoas, pelo simples fato de ao estudar a língua portuguesa sentirem dificuldades e permanecerem com elas.
 Diante de tantos dilemas propus que, fora do convencional -  escrever no quadro regras gramaticais e passar horas e horas explicando-as e exemplificando-as com frases -, possamos usar o método de forma contextualizada, usando o gênero poético. Assim, além de usar um poema para trabalhar a questão dos versos, estrofe, rima, figura de linguagem, também utilizaríamos para trabalhar a parte gramatical, em especial a Morfologia, na qual estou dando maior ênfase neste artigo.
             Em sala de aula percebo que a morfologia é um dos maiores problemas para os alunos, pois sentem dificuldades em assimilar as classes gramaticais, e o maior tabur digamos, é entender o conceito do que é o verbo, flexioná-lo e identificá-lo no contexto.
             Quando trabalhamos com poesias em sala de aula, percebemos que os alunos sentem curiosidade em conhecer o gênero e entender o que o eu - lírico tenta nos levar a reflexão sobre o poema e assim passamos a inserir a morfologia para que eles possam assimilar com calma e clareza. A poesia nos leva a imaginar o que o eu – lírico procura dizer e assim a compreensão gramatical pode ser compreendida com maior facilidade.
              Esse método tem o objetivo de além de incentivar o habito a leitura, conhecer o gênero textual, estrutura poética e apresentar mais uma forma para se trabalhar a gramática da língua portuguesa de forma diferenciada e contextualizada, possibilitando um método de aprendizado contextual literário poético. Suponho que quanto maior o incentivo, maior será o desempenho no aprendizado.
1 FORMAÇÃO HISTÓRICA DA LÍNGUA PORTUGUESA - A origem da Língua Portuguesa
          A língua portuguesa é um prolongamento do latim levado pelos romanos à Península Ibérica. Por esse motivo há uma inter-relação entre o seu histórico e a história da Península.
         Pouco é o que se sabe a respeito dos povos que habitavam o solo peninsular antes da invasão romana (séc. III a. C.). Dentre eles citam-se como as mais importantes os iberos, os celtas, os fenícios, os gregos e os cartagineses.
          Muitos séculos antes de Cristo, a Península Hispânica, ou Ibérica, era habitada pelos Iberos, povo agrícola e pacífico e o mais antigo de que se tem notícia.
          Pelo século VI a. C., invadiram-na os Celtas, povo turbulento e guerreiro. Com o correr dos séculos mesclaram-se com os Iberos dando origem aos povos Celtiberos.
           Pelos tempos adiante, outros povos, os Fenícios, os Gregos e os Cartagineses, estabeleceram colônias comerciais em vários pontos da Península.
           Como os cartagineses pretendessem apoderar-se dela totalmente, por ocasião do cerco de Sagunto, os Celtiberos chamaram em seu socorro os Romanos.
           Por isso, no século III a. C., os Romanos invadiram a Península com o intuito de sustar a expansão de Cartago, que constituía séria ameaça ao domínio do mundo mediterrâneo, pretendido por Roma.
            Vencida Cartago, as legiões romanas dominaram toda a Península, tornando-se, esta província romana em 197 a. C. Essa dominação, no entanto, não foi apenas político militar, mas, e principalmente, cultural. Roma paralelamente à sua conquista territorial ia realizando a conquista linguística, impondo aos povos vencidos a sua língua: o Latim.
           Homens experimentados que eram em séculos de conquistas anteriores, os romanos usaram de verdadeira tática para que sua civilização se implantasse e sua língua se impusesse de modo geral e eficiente na Península Ibérica. Começaram levando para a Península Ibérica os fatores de civilização que lá não existiam: abriram escolas, construíram estradas, templos, organizaram: o comércio, o serviço de correio etc.
             Além disso, foram intransigentes na imposição do uso do Latim nas transações comerciais e nos atos oficiais; na organização do serviço militar obrigatório, onde também obrigatório era o uso do Latim.
              Convém lembrarmos que não foi o Latim visto nas obras dos grandes escritores latinos como Cícero, César, Horácio, etc., conhecido como o Latim Clássico, que foi levado à Península, mas o Latim usado pelo povo no teatro comum, chamado Latim Vulgar. Porque, como bem o diz Serafim da Silva Neto, uma língua tem dois empregos distintos: o literário, quase sempre escrito, usado pelos artistas da palavra, e pela sociedade culta, difundindo nas escolas e nas Academias e o popular, falado quase sempre, de que se serve o povo despreocupado e inculto. Era, pois, desta última forma linguística, Latim Vulgar, que se serviram os soldados e colonizadores romanos.
               Tendo o prestigio de língua oficial, ensinada nas escolas, usada nas relações comerciais, o Latim pôde suplantar os demais idiomas falados pelos peninsulares, que adotaram a língua dos vencedores.
              Assim, com a assimilação lenta, mas progressiva de uma civilização de caráter essencialmente romano, a Península Ibérica chega ao século V da era cristã, já completamente romanizada, isto é, politicamente pertencendo ao Império Romano e linguisticamente falando a língua de Roma – o Latim.
              No século V da nossa era, foi a Península invadida e assolada pelos bárbaros germanos (alanos, suevos, vândalos, visigodos) povo essencialmente guerreiro, de cultura inferior à dos peninsulares, já romanizados. Embora vencedores, os bárbaros adotaram a civilização e a língua latinas. Contudo, causaram a dissolução da unidade política do império; as escolas foram fechadas, pois julgavam que a instrução enfraquecia o espírito guerreiro dos homens; houve o desaparecimento da nobreza romana, que cultivava as letras latinas; nos mosteiros procurou-se conservar a língua clássica, mas, mesmo aí, a leitura dos clássicos latinos foi proibida pelo cristianismo por estar contaminada de espírito pagão.

1.1.Historia da Língua Portuguesa
                 Inúmeras lutas se travaram para a expulsão dos mouros do território peninsular. Nessas lutas, já em fins do século XI, muitos fidalgos vieram militar sob a bandeira de D. Afonso VI, rei de Leão e Castela. Dentre eles destacou-se D. Henrique, conde de Borgonha, que, por seus serviços prestados à coroa e a causa cristã, recebeu em casamento D. Tareja, filha de D. Afonso VI, e como dote o governo do Condado Portucalence, pequeno território situado na costa ocidental da Península Ibérica, entre os rios Douro e Minho. Este casamento realizou-se em 1095.
                 Por morte do conde D. Henrique, coube, primeiro à sua esposa, e posteriormente a seu filho D. Afonso Henriques, lutar para fazer do condado um estado independente do reino de Leão e Castela. Houve incessantes combates contra os mouros e leoneses. Em 1139 dá-se a batalha de Ourique, entre mulçumanos e portugueses. Ao comando das tropas está D. Afonso Henriques, e antes que a luta começasse, os soldados portugueses o aclamam rei de Portugal, ecoando pela primeira vez um brando de nacionalismo lusitano: Real, Real, por El-Rei D. Afonso Henriques de Portugal! Contudo só em 1143 são reconhecidos a independência do Condado Portucalence e o título de rei a D. Afonso Henriques.
                    Estava, assim, definitivamente fundado um novo reino – Portugal _ e aparecia no mundo europeu uma nova nação – a portuguesa.
                      Nessa região, onde foi fundada a monarquia portuguesa, falava-se o dialeto galeziano, ou galego-português, expressão linguística comum à Galiza e Portugal. No entanto, à medida que Portugal estendia seus domínios para o Sul, estabelecendo sem limites atuais, e absorvendo os falares ou romances que aí existiam, iam se processando as diferenciações linguísticas, entre o falar dos galegos, que permaneceu estacionário, e o falar dos portugueses, que evoluiu a ponto de tornar-se independente do galego. Cindiu-se, então, a expressão galgo-português em duas línguas diferentes: o galego que foi absorvido pela unidade castelhana, e o português, que continuou sua evolução, tornando-se a língua de uma nacionalidade e atingindo a perfeição atual que conhecemos.
1.2 Fases da Língua Portuguesa
             Leite de Vasconcelos reconhece, na evolução da Língua Portuguesa, três fases: pré-histórica, proto-histórica e histórica.
              Fase Pré-Histórica – começa com as origens da língua e vai até o século IX. Do século V ao IX temos o que se chamou o romance lusitânico.
             Fase Proto-Histórica – estende-se do século IX ao XII. Nesta fase encontram-se, nos documentos redigidos em Latim bárbaro, palavras portuguesas. Portanto a língua já era falada, mas não era escrita.
             Fase Histórica – inicia-se no século XII e se estende até nossos dias. Compreende dois períodos:
1.3. Período do Português Arcaico – do século XII ao século XVI.
            No século XII aparece o primeiro texto inteiramente redigido em português. É a Cantiga da Ribeirinha, poesia escrita por Paio Soares de Taveirós dedicada à D. Maria Paes Ribeiro, a Ribeirinha. A grande filóloga Dra. Carolina Michaelis de Vasconcelos datou este primeiro documento da língua portuguesa de 1189. A partir de então aparecem textos em poesia e, mais tarde, em prosa. Podemos conhecer o Português Arcaico através das poesias trovadorescas que estão reunidas em “Cancioneiros” e, ainda, na prosa de cronistas como Fernão Lopes, Gomes Eanes Zurara, Rui de Pina.
              Em 1290, D. Dinis, o Rei Trovador, torna obrigatório o uso da língua portuguesa, e funda, em Coimbra, a primeira Universidade.
1.4.Período do Português Moderno – do século XVI até nossos dias.
             No século XVI, sob a influência dos humanistas do Renascimento, houve um processo de aperfeiçoamento e enriquecimento linguísticos, voltando-se os escritores à imitação dos modelos latinos, e procurando aproximar a Língua Portuguesa à língua mãe. Como a coroar esse processo, aparece, em 1572, a obra de Luís de Camões, Os Lusíadas, marcando a historia do nosso idioma com o maior monumento, literário e linguístico.
                 É ainda no século XVI que se inicia a gramaticalização do idioma com a publicação, em 1536, da primeira gramática da língua portuguesa, escrita pelo Pe. Fernão de Oliveira, Gramática da Lingoagem Portugueza. Em 1540 João de Barros escreve a segunda com o mesmo título da primeira.
1.5. Domínio da Língua Portuguesa
               A partir do século XV, através da expansão marítima de Portugal, descobrindo e colonizando novas terras, a língua portuguesa foi levada a essas regiões conquistadas. Assim, estendeu seu domínio geográfico, que compreende os países, os lugares onde é falada.
                Segundo Leite de Vasconcelos, o Português atinge hoje os seguintes domínios:
1.      Português Continental – falado em Portugal.
2.      Português Insulano – falado nas ilhas da Madeira e dos Açores.
3.      Português Ultramarino: 
a)      Brasileiro;
b)      Indo-português, que corresponde os dialetos crioulos de Damão, Diu, Goa (Ásia);
c)      Dialeto crioulo de Ceilão (Ásia);
d)     Dialeto crioulo de Macau (Ásia);
e)      Malaio-português, com os dialetos crioulos de Java, Malaca, Cingapura (Ásia);
f)       Português de Timor (Ásia-Oceânia);
g)      Dialeto crioulo de Cabo Verde (África);
h)      Dialeto crioulo de Guiné (África);
i)        Português de Angola, Moçambique, Zanzibar, Mombaça, Melinde e Quíloa (África).
             Em algumas regiões da África e da Ásia, o Português, em contato com os idiomas indígenas, sofreu muitas alterações, dando origem ao dialeto crioulo – falar indígena resultante do emprego de uma língua de civilização pelos nativos, nas suas relações comerciais.
           Ensinar a gramática da língua portuguesa tem sido um dos maiores fatores para que os alunos digam que odeiam a disciplina de português. Isso porque as regras são tantas e acabam por deixá-los meio que confusos com tantas regras, ora uma palavra é um substantivo, ora é verbo e ora é adjetivo. Ou ora é um artigo, ora é pronome, ora é preposição. E por aí vai.
             E uma ótima forma de ensinar à gramática, em especial a morfologia, seria usar textos do gênero poético para que além de ensinar rimas, estrofes, versos, podemos ensinar a nossas tão temíveis regras da gramática e fazê-los perceber assim como é fácil entender elas e usá-las sem tabus ou medo.
2 MORFOLOGIA HISTÓRICA
                Esquema:
1)      Os casos
I.                   Quanto aos nomes -        2)  As declinações
                                                           3) Os gêneros
1)      As conjugações
       II.  Quanto aos verbos -             2) Tempos que assumiram novas funções
                                                           3) Criações Românicas
I.                   QUANTO AOS NOMES
1.      Os casos
                   O Latim é uma língua sintética, isto é, exprime as funções sintáticas das palavras por meio de flexões, ao passo que já o Latim Vulgar e as línguas neolatinas são analíticas, isto é, exprimem as funções sintáticas das palavras por elementos prepositivos: artigos e preposições.
                    É o caso, por exemplo, de:
Latim Clássico                          Latim Vulgar                        Português
   Liber Petri                               Libru de Petru                   Livro de Pedro 
                    Assim é que no Latim literário existem tantas flexões ou desinências, quantas são as funções sintáticas que uma palavra pode receber na proposição.
                       A essas desinências correspondentes às diversas funções lógicas dá-se o nome de casos. Há então, no Latim Clássico, os seguintes casos:
a)      Nominativo – caso do sujeito (discipulus);
b)      Genitivo – caso do complemento restritivo (discipuli);
c)      Dativo – caso do objetivo indireto (discipulo);
d)     Acusativo – caso do objetivo direto (discipulum);
e)      Vocativo – caso do vocativo (discipule);
f)       Ablativo – caso dos adjuntos adverbiais (discipulo).
                   Ora, as línguas de origem popular procuram – para maior facilidade – reduzir essas flexões casuais, substituindo-as pelo uso de artigos e preposições.
2.2. Redução dos casos. O caso lexicogênico.
                   O resultado dessas reduções foi que apenas dois casos restaram no Latim Vulgar: o nominativo e o acusativo, ou seja, um caso reto e um caso oblíquo. Aliás, mais rigorosamente podemos dizer que o único caso que restou foi o Acusativo, do qual procede a maioria absoluta das palavras portuguesas. É por essa razão que o acusativo é chamado o caso lexicogênico (aquilo que dá origem ao léxico português) dos vocábulos de nosso idioma.
                    As nossas palavras, por exemplo, “verdade” ou “ourives”, não podem provir senão dos respectivos acusativos “veritate” e “aurifice”.
                     Várias foram as causas da redução dos casos latinos. Dois fatores muito contribuíram para a confusão entre os diversos casos: em primeiro lugar, a apócope do m característico do acusativo e depois, a perda da distinção quantitativa das vogais.
                     Exemplifiquemos: tomando a palavra discípulo, o seu nominativo era no Latim Clássico discipulus e o acusativo discipulum. Ora, uma vez que o Latim Vulgar eliminou as desinências casuais, a palavra se reduziu a discipulu tanto para o nominativo como para o acusativo, e daí a indistinção dos casos. Além disso, se tomarmos a palavra marinheiro temos, no Latim Clássico, nauta com o a final breve no nominativo, no vocativo e no acusativo, mas nos demais casos o a é longo. Perdida, porém, a distinção das quantidades das vogais, resultou no Latim Vulgar mais uma tendência para a confusão ou uniformidade dos casos.
                    Todavia, segundo Menéndez Pidal não são estas razões fonéticas, senão outras psicológicas e sintáticas, a s que mais contribuíram para a perda da declinação latina. Em geral, a declinação das línguas indo-européias se conserva menos que a conjugação, porque a substantividade invariável do substantivo não exige a distinção de formas como o verbo que indica ação, progresso, mudança. As relações indicadas pelas desinências casuais são, via de regra, mais vagas que as expressas pelas desinências verbais e necessitam concretizar-se por meio de uma preposição. (Vide Manual de Gramática Histórica Española, pag. 205).
                    Vestígios dos casos em Português – Como dissemos, o acusativo é o caso lexicogênico das palavras portuguesas. Entretanto, temos vestígios de outros casos, como:
1.      Do Nominativo – os nomes próprios como: Deus, Cícero, Cesar, Nero, Júpiter etc. as palavras eruditas como: sopor (frade, freira, frei), serpe (serpente), câncer, ladro (ladrão), virgo (virgem, virgindade) etc. os pronomes pessoais do caso reto: eu, tu, ele, nós, vós, eles. Os demonstrativos: este, esse, aquele.
2.      Do Genitivo – as palavras compostas: terremoto (terrae + motu); aqueduto (aquae + duto); agricultor (agri + cultura); jurisprudência (juris + prudentia); uxoricida (uxoris + cida).
               Além disso, o genitivo em ici deu origem a alguns patronímicos portugueses. É o caso de Fernandici – Fernandez – Fernandes (filho de Fernando); Soarici – Soarez – Soares (filho de Soeiro).
3.      Do Dativo – crucifixo (cruci + fixu); mim (mihi); ti (tibi), si (sibi); lhe (illi).
4.      Do Ablativo – agora(hac + hora); fidedigno (fide + dignu); talvez (tali + vice).
2.3.As declinações
                  Os substantivos latinos estão classificados em cinco categorias chamadas declinações, cujas características práticas são as desinências do genitivo singular, como seguem:
5ª. d.
EI
 
1ª. d.
AE
 
Caixa de texto: 2ª. d.
I
3ª. d.
IS
 
4ª. d.
US
 
Genitivo sing.
  

EXEMPLOS: nauta – ae                     (1ª. declinação)
                        Servus – i                      (2ª. declinação)
                        Civitas – is                    (3ª. declinação)
                         Manus – us                   (4ª. declinação)
                         Dies –ei                        (5ª. declinação)
                 Redução das declinações – entretanto, no Latim popular, essas declinações reduziram-se a três com perda da quarta e da quinta.  A quarta declinação confundiu-se coma a segunda, e a quinta incorporou-se parte à terceira e parte a primeira.
                Estas confusões têm seus germens nas declinações heteróclitas do próprio latim literário.
                Segundo Quintiliano já era dúbia a flexão da palavra domus (segunda e quarta declinação).
                Segundo Varrão, os nomes de árvores, como pinus, cupressus, laurus, podiam seguir estas duas declinações.
               Já em Plauto, Terêncio e Catão encontram-se os genitivos senati, frueti, gemiti, tumulti. Assim também havia dubiedade de usos já no latim literário entre os nomes da quinta e os da primeira declinação: materies-ei / matéria-ae; luxuries-ei / luxuria-ae.
               Por isso as palavras dia e raiva não podem ter proviso de dies e rabies e sim das formas vulgares dia e rabia.
              Segundo Grandgent os nomes da quinta declinação não terminados em ies passaram para a terceira declinação.
              Quanto às outras declinações, normalmente se conservaram. Fazem exceções certos neutros imparissílabos da terceira que passaram para a segunda declinação: os, ossis- ossum-osso; vas, vasis – vasum – vaso; caput, capitis – capu- cabo.
              Note-se que a nossa palavra cabeça vem de um seu derivado capitia (cofere espanhol, cabeza).
2.4.O gênero dos substantivos. Desaparecimento do neutro
                   No primitivo indo-europeu o gênero gramatical dos substantivos fundamentava-se no sexo real e por isso os seres inanimados eram do gênero neutro (neuter = nem um nem outro).
                   Tal distinção, porém, tornou-se, funcionalmente falando, uma superfluidade. Daí que já o Grego e o Latim, embora tivessem conservado o gênero neutro, não eram rigorosos no seu uso; vamos encontrar nessas línguas seres inanimados que podiam ser masculinos ou femininos.
                     Na passagem para as línguas neolatinas, o gênero neutro foi desaparecendo progressivamente e hoje pode-se dizer que, nas línguas românicas, deixou de existir como categoria gramatical.
                     Causas do desaparecimento do gênero neutro – as causas do desaparecimento do gênero neutro foram – como na redução dos casos – fonéticas (analogia das formas) e psicológicas (desnecessidade da oposição entre gênero animado e o inanimado).
                         1.   Na primeira declinação não havia nenhum nome neutro; ao contrário, eram quase todos femininos, de tal forma que a terminação a passou a ser característica dos nomes femininos.
                         2.  Quanto à segunda declinação deu-se o contrário: a maioria dos nomes eram masculinos e neutros; assim sendo a final o (acusativo singular sem m, passando u para o) caracterizou o gênero masculino. Ora, os substantivos neutros tendo as desinências identificadas com as dos masculinos, passaram para esse gênero. Exemplos: pratum – pratu – prado; exemplum – exemplu – exemplo; templum – templu – templo; vinum – vinu – vinho; ovum – ovu – ovo; aurum – auru – ouro; etc.
                   Note-se, porém que, sendo o acusativo neutro plural terminado em a, ocorreram confusões com o gênero feminino.
                  É o que se verifica com as palavras usadas com o valor de pluralidade ou de coleção (caso do sufixo menta). Exemplos:
Vestimenta (plural de vestimentum) – vestimenta (f)
Ferramenta (plural de ferramentum) – ferramneta (f)
                   3. Quanto à terceira declinação, vimos que alguns nomes neutros, como os, ossis / vas, vasis, passaram para a segunda declinação assumindo o gênero masculino.
                   Outros terminados em e, como maré, rate, praesepe, ovile etc., já em Latim alternavam o neutro com a forma do masculino ou feminino, passando para o Português com estes gêneros.
                   Os neutros terminados us, como corpus, tempus, pectus, deram em Português nomes em os: corpos, tempos, peitos; só posteriormente adotaram, por analogia, as formas do singular: corpo, tempo, peito.
                  Como regra geral, porém, os neutros da terceira declinação incorporam-se também aos masculinos.
                  Resumindo: os neutros, no Latim Vulgar, tomaram dois caminhos: no singular passaram a masculinos e, no plural, passaram a femininos.
                  Vestígios dos gêneros neutros em Português – como dissemos o gênero não existe em Português, como categoria gramatical. Entretanto, deixou vestígios nos seguintes casos:
               1. Nas formas de pronomes demonstrativos – isto (esta coisa); isso (essa coisa); aquilo (aquela coisa); o (igual a isto ou aquilo) em frases como estas: disse tudo o que sabia (isto é, aquilo que sabia); espero que sejas feliz quanto o desejo (isto é, quanto desejo isto, a saber, que sejas feliz).
               2. Nas formas de pronomes indefinidos – tudo (toda coisa); nada (nenhuma coisa); algo (alguma coisa).
               3. Nas formas de adjetivos substantivado – o útil (a coisa útil); o agradável (a coisa agradável); o belo ( a coisa bela).
               4. Nos casos de infinitivos substantivados – aprecio o cantar do pássaro; Fumar não é bom.
               5. Quando o sujeito é determinado em frases como estas: Limonada é bom; É proibido entrada. 
              Aqui poderíamos utilizar o poema de Fernando Pessoa, para expressar essa parte do gênero:
Mensagem
ULYSSES

O MITO é o nada que é tudo.
O mesmo sol que abre os céus
É um mito brilhante e mudo –
O corpo morto de Deus,
Vivo e desnudo.

Este, que aqui aportou,
Foi por não ser existindo.
Sem existir nos bastou.
Por não ter vindo foi vindo
E nos criou.

Assim a lenda se escorre
A entrar na realidade,
 E a fecundá-la decorre.
Embaixo, a vida, metade
De nada, morre.

                    Neste poema podemos perceber claramente a utilização do gênero substantivo masculino e feminino. Por exemplo: o mito (do latim mythu), o corpo (do latim corpu), que ocorre o acusativo singular e ainda estão acompanhados do artigo definido masculino. No feminino temos: a lenda (do latim legenda) e a vida (do latim vita) acompanhadas pelo artigo definido feminino. Também percebemos os casos da terceira declinação com a terminação em e, como em: do substantivo realidade que é do gênero feminino e do adjetivo brilhante que nesse caso é do gênero masculino.
                  No próximo poema, de Glecia Sousa, podemos trabalhar as formas dos pronomes demonstrativos:
 ISSO, ISTO, AQUILO

Quem dera como Pessoa eu fosse
E não fugisse a isso
Mesmo que Quintana não fosse
 Ainda assim deveria ser isso
Ou quem sabe aquilo
Que Drummond inventou
Ou Meireles criou
E mesmo assim
Eu ainda insistiria
E isso, isto, aquilo,
Ainda assim seria poesia.
O que me resta da vida
Senão querer ser como:
Pessoa, Quintana, Drummond, Meireles
É isso:
Ser eternamente poesia!       

                      Neste poema podemos trabalhar a utilização nas formas de pronomes demonstrativos: isto, isso, aquilo; representando os vestígios deixados pelo gênero neutro em Português que não existe, mas com a utilização destes e demais classes citadas, anteriormente, podem fugir a esta regra.
II.                QUANTO AOS VERBOS
1.      Redução das conjugações
              Existem no latim literário quatro conjugações, cujas características práticas são as terminações dos infinitivos, como seguem:
                           1ª conj.             2ª conj.          3ª conj.            4ª conj.
ARE
 
Caixa de texto: ÉRE
ÊRE
 
IRE
 
Infinitivos 
              Nota-se que a diferença entre os infinitivos da segunda e os da terceira é apenas a quantidade das vogais É e Ê. Ora, pedrida a oposição quantitativa, os verbos da segunda e os da terceira entraram a confundir-se, ou melhor, desapareceu a terceira conjugação.
             Os verbos em are, ere, ire deram respectivamente em português ar, er, ir.
              A primeira conjugação é a mais resistente uma vez que além de não perder verbos, recebeu-os da segunda e da terceira.
             Assim: torrére – torrare – torrar / Fidere – fidare – fiar / Prosternere – prostrare – prostrar
               A segunda conjugação recebeu a maior parte dos verbos da terceira:
              Assim: ponêre – poêre – poer (arc.) – pôr / Dicêre – dicére – dizer /  Facêre – facére – fazer / Scribêre – scribére – escrever
                Note-se que os compostos ducere e de sequi deram em Português verbos em ir: conduzir, produzir, reduzir, seduzir, perseguir, prosseguir, etc.
                 Portanto, a quarta conjugação latina deu a terceira em Português.
                 Note-se ainda que houve mudança de conjugação dentro da própria língua portuguesa. Ex.:
                 Cadêre – cadére – caer (arc.) – cair
                 Corrigêre – corrigére – correger (arc.) corrigir
                 Aqui temos o poema de Hermes José Novakoski:
POEMA DE VERBOS

Parei! Pensei! Vi!
Olhei! Falei! Pensei!
Corri! Bati! Caí!

Segui! Sumi! Morri!
 Parei para observar
Pensei no que fazer
Vi acontecer

Olhei ao meu redor
Falei de emoção
Pensei com o coração

Corri de medo
Bati contra a parede
Cai sobre uma rede

Segui o meu caminho
Sumi pelos espinhos
Morri de tanto ri.

                (Esta poesia faz parte do livro didático de português da 7ª série da Rede de Escolas Pitágoras, Ed. 2008).
                  Neste poema de Hermes José Novakoski, podemos identificar claramente os verbos das três conjugações com a mudança para o Português: AR – parar, pensar, olhar, falar; ER – ver, bater, correr, morrer; IR – cair, seguir, sumir e sorrir. Aqui podemos identificar também o tempo e o modo, a partir da flexão dos verbos. Assim o tempo é o passado – Pretérito Perfeito e o modo Indicativo.

Verbos anômalos
               O verbo esse transformou-se em essere (confere italiano essere; francês être). O português e o espanhol “ser” não vêm de essere e sim de sedere que, originalmente, significa estar sentado.
             O verbo posse deu potére, donde em Português poder.
              Os compostos de ferre passaram em geral para a quarta conjugação latina, dando, em Português, verbos em ir. Exs.:
                Conferre – conferire – conferir / Differre – differire – diferir
               Mas os verbos sufferre e offerre deram também sufferére e offerescére, donde o português sofrer e oferecer.
             No poema Mensagem ULYSSES, de Fernando Pessoa, temos a utilização dos verbos anômalos Ir e Ser, flexionados: foi, é - e utilizados na forma infinitiva como verbo auxiliar: ser.  
2.4.Tempos que se perderam ou assumiram novas funções
I-                   Modo Indicativo
Presente                                      Pret. Imperf.                         Futuro Imp.
Amo – eu amo                          amabam – amava                  amabo – (amarei)
Pret. Perf.                                   Pret. + que Perf.                    Futuro Perf.
Amavi – eu amei                       amaram – eu amara                 amaro - (tenha amado)
II-                Modo Subjuntivo
Presente                                         Pret. Imperf.                            Pret. Perf.
Amem – eu ame                           amarem – (amasse)                amarim – (tenha amado)
Pret. + que Perf.                                                   Futuro
Amassem – (tivesse amado)                              X – (eu amar)
III-             Modo Imperativo
Presente                                                                 Futuro
Ama – ama tu                                                       Amato – X
Formas Nominais
1.      Infinitivo
                          Impessoal = amare - amar
Presente
                           Pessoal = X – (amar eu)
                          Impessoal = amasse – (ter amado)
Perfeito             Pessoal = X – (ter eu amado)
                             Impessoal = amaturum esse – (haver de amar)
Futuro                
                           Pessoa l = X – (haver eu de amar)
2.      Particípio
Presente:  amans – (amante, amado)
Passado: amatus - amado
Futuro: amaturus – (X)
Supino: amatum – (X)
Gerúndio: g.            amandi – (x)
                  d.             amando – (X)
                  ac.            Amandum – (X)
                  abl.           Amando – amando
Gerundivo: amandus-a-um     - (X)
              Concluímos, portanto que:
2.5. – Nos tempos do infectum:
1.                  O futuro imperfeito perdeu a forma correspondente, sendo que a forma amarei é uma criação românica.
2.                  O pretérito imperfeito do subjuntivo perdeu a forma correspondente, sendo que a nossa forma amasse é derivada do pretérito mais que perfeito latino (amassem – amasse); é, portanto, um tempo que assumiu nova função.
 Ainda em Vieira temos exemplo do uso do pretérito imperfeito com valor de mais que perfeito – não houve divergências que não fizésseis. – (=que não tivésseis feito).
3.                  O futuro do subjuntivo não existe em Latim. Por isso a nossa forma quando eu amar é também uma nova função assumida.
Esta forma é resultante de uma confusão entre o futuro perfeito e o pretérito perfeito do subjuntivo, formas, aliás, quase idênticas no Latim.
4.                  O imperativo futuro desapareceu em Português, pois usamos para ele o futuro do presente.
Ex.: Amarás o Senhor teu Deus!
5.                  O infinitivo pessoal não existe em Latim, sendo, portanto, outra criação românica, ou melhor, idiotismo do Português.
6.                  O particípio presente assumiu nova função, porquanto, se até em Camões encontramos exemplos de particípio presente:
Atenta a ilha Barém, que o fundo ornado
Tem das suas perlas ricas e imitantes
 cor da aurora;
A partir do século XVI, tal emprego é considerado latinismo.
            Hoje, o particípio presente se reduz a mero adjetivo: água corrente, resposta urgente; ou a substantivo como: estudante, crente; ou até as preposições: durante, mediante, etc.
            Também o particípio futuro perdeu sua forma correspondente no Português; deixou apenas alguns vestígios como em nascituro ou nas formas em – ouro -: vindouro, imorredouro, etc.
7.                  O gerúndio conservou-se apenas no ablativo, assim mesmo, muitas vezes, com valor de adjetivo por confusão com o particípio presente. Ex.: vejo crianças colhendo (= que colhem) flores.
8.                  O gerundivo também deixou apenas vestígios em formas como estas: vitando, memorando, colendo, venerando, execrando etc.
9.                  O supino que é, em Latim, um tempo primitivo em relação aos seus derivados (particípio presente, particípio futuro ativo e infinito futuro ativo e passivo) não deixou vestígios em Português.
B – Nos tempos do perfectum:
         Perderam as formas correspondentes em Português, assumindo formas compostas:
a.                       O futuro perfeito;
b.                      O pretérito perfeito do subjuntivo;
c.                       O pretérito mais que perfeito do subjuntivo;
d.                      O infinitivo perfeito.
3.                  Criações Românicas
3.1.FUTURO DO PRESENTE E DO PRETÉRITO
            Como vimos a nossa forma de futuro do presente não corresponde à do Latim (compare: amabo, amarei).
            É que ao lado da forma normal de futuro (ex. amabo) existiam as locuções verbais formadas do verbo auxiliar habere mais o infinitivo. Ex.:
           De republica nihil habeo ad te scribere. (Cicero ad Att.)
           Em Sêneca – quid habui facere (o que eu tive intenção de fazer).
           Nas línguas românicas predominam essas locuções verbais, notando-se que na fase final do Latim Vulgar o verbo auxiliar é composto ao infinitivo, cantare habeo, daí em Português cantarei.
           Futuro do Presente = Infinitivo + Presente de Habere
Cantare + habeo > cantar + ao > cantarei
Cantare + habes > cantar + ás > cantarás
Cantare + habet > cantar + at > cantará
Cantare + habemus > canatr + emus > cantaremos
Cantare + habetis > cantar + etis > cantareis
Cantare + habent > cantar + ant > cantarão
             Analogamente é formado o futuro do pretérito. Do mesmo modo que se dizia – habeo dicere -, tenho a intenção de dizer, assim também se podia expressar – habebam dicere-, tinah a intenção de dizer, donde em Português: cantare habebam > cantaria.
             Futuro do Preterito = Infinitivo + Imperfeito de Habere
Cantare + habebam > cantar + abeam > cantar + ea > cantaria
Cantare + habebas > canatar + abeas > cantar + eas > cantarias
Cantare + habebat > cantar + abeat > cantar + eat > cantaria
Cantare + habebamus > cantar + abeamus > cantar + eamus > cantaríamos
Cantare + habebatis > cantar + abeatis > cantar + eatis > cantaríeis
Cantare + habebant > cantar + abeant > cantar + eant > cantariam
3.2.    TEMPOS COMPOSTOS
             O Latim literário não possuía forma própria para o perfeito presente; para exprimir uma ação passada cujos efeitos perduram no presente introduziu-se no latim corrente um circunlóquio formado do verbo habere mais o particípio passado do verbo principal. Ex.: em Cícero lemos: “in ea província pecúnias magnas collocatas habent” (têm colocadas nessa província grandes somas de dinheiro) onde a ideia é de presente.
              Mas, nem sempre se podia distinguir o perfeito presente do perfeito histórico. Assim no século VI Gregório Turonense escreve: episcopum invitatum habes, cuja tradução deve ser: convidas-te (e não tens convidado) o bispo.
             O uso generalizou-se notando-se que na Península Ibérica predominou o uso do auxiliar tenere por habere donde resultou que no Português, os tempos compostos são regularmente formados com o auxiliar ter mais o particípio.
3.4 O INFINITIVO PESSOAL OU FLEXIONADO
            O infinitivo flexionado é um idiotismo do Português, no sentido de que ele não se encontra em nenhuma das outras modernas línguas literárias neolatinas.
            Três são as teorias explicativas de seu aparecimento:
             A primeira teoria (de Meyer-Lübke) atribui origem analógica ao infinitivo flexionado. Assim como no futuro do subjuntivo se diz amar, amares, amar, etc.
             A segunda teoria (de Leite de Vasconcelos) também é analógica. A construção de frases como: ter eu saúde é bom; ter ele saúde é bom, teria estendido a teres tu saúde é bom; termos nos saúde é bom, etc. essa nova modalidade de infinitivo teria sido ajudada pela flexão do futuro do subjuntivo nos verbos fracos.
             A terceira teoria (conta com o maior numero de filólogos) sustenta que o nosso infinitivo flexionado deriva-se diretamente do pretérito imperfeito do subjuntivo latino.
               Aliás, do ponto de vista fonético nenhumas dificuldade haveria nessa passagem.
              Comparem-se:
Pretérito Imp. Subj.                                       Infinitivo Pessoal
Amarem                                   >                            amar
Amares                                     >                           amares
Amaret                                     >                            amar
Amaremus                               >                                  amarmos
Amaretis                                   >                                 amardes
Amarent                                   >                                 amarem
3.5.VOZ PASSIVA ANALÍTICA
               Finalmente, constitui outra apreciável criação românica a voz passiva analítica dos verbos na semântica do infectum.
                Exemplificando: pertencem à semântica do infectum todos os tempos que trazem ideia não concluída ou perfeita (presente – imperfeito – futuro imperfeito).
               No Latim literário estes tempos tinham forma sintética na voz passiva, as quais foram substituídas por formas analíticas no Latim Vulgar.
               Exemplos:
                           Latim Literário                         Latim Vulgar
Pres. Indic.                AMOR                                 Amatus sum
Pres. Subj.                 AMER                                  Amatus sim
Pret. Imp. Ind.           AMABAR                           Amatus eram
Pret. Imp. Subj.          AMARER                            Amatus essem
Future Imperf.            AMABOR                            Amatus ero
            Os poemas utilizados anteriormente e o que se segue, servirão para exemplificarmos esta parte final das criações românicas e assim, explicarmos que devido tantas modificações sofridas em decorrência destas mudanças da língua latina até chegar a língua portuguesas, deram origem aos modos verbais que hoje utilizamos em nossa língua: modo indicativo, modo subjuntivo, modo imperativo e formas nominais do verbo – infinitivo, gerúndio e particípio.
            E para findar, concluo com o poema de Eliane Pereira Machado Soares:

GRAMÁTICA

Na sintaxe do teu corpo
Se escreve o meu amor
Verbo que se conjuga
Com desencanto e dor.

Sou o objeto indireto
De um verbo que não transita,
Sujeito indeterminado
De uma oração que não vinga.

Teu amor subjuntivo
De tempo mais que imperfeito
Diz que o futuro foi ontem
Esquecido no meu leito.

Que gramática estranha
Resulta essa língua torta?
Bem sei que na verdade
Já é uma língua morta.


 
Referências      
ALI, MANUEL SAID, Gramática Histórica da Língua Portuguesa, 1ª. ed.,  Melhoramentos, São Paulo, 1921 – 1923; 3ª. ed., Melhoramentos, São Paulo, 1964.
PESSOA, FERNANDO, 1888 – 1935, Poesias / Fernando Antonio Nogueira Pessoa; organização de Sueli Tomazini Cassal. Porto Alegre: L&PM, 2006.132 p.; 18cm.
NOVAKOSKI, HERMES JOSÉ, POEMA DE VERBOS / Esta poesia faz parte do livro didático de português da 7ª série da Rede de Escolas Pitágoras, Ed. 2008.
SOUSA, GLECIA DA SILVA, ISSO, ISTO, AQUILO, ENTRE VERSOS E RIMAS, 1ª ed., Projeto Tocaiúnas, Marabá-PA, 2014.
SOARES, ELIANA PEREIRA MACHADO, Crisálida, Obra premiada pelo Instituto de Artes do Pará, Prêmio Max Martins, Belém: IAP, 2012. 64 p.: 21,5cm.
     
          
    

           

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